Carta ao cultivo da aliança vital

Resumo

há 86.400 minutos, e subindo, habitamos, desajeitadxs, um estado de vida pandêmico. desde que a fina camada de segurança da vida humana na terra foi furada por um agente biológico, habitamos o assombro. é certo, as forças não-humanas, geológicas, animais, vegetais, anímicas, minerais, estelares, planetárias, os vírus e as bactérias, a rebentação dos vulcões e das marés, estão tocando sinos em baladas cada vez mais fortes: o alarme vital da terra apita. para reorientar a bússola é preciso chacoalhar. o movimento retoma seu curso, mas para onde? no eco do tempo há uma voz que nos diz: é preciso cuidar das profilaxias da terra. com as mãos lavrar a terra, segurar o céu e lavar o medo. é preciso manter-se em tesa suspensão. estar prestes! no teatro se encarnam as entidades do mundo que atravessam as épocas, os corpos e a peste, criando novos mundos, imaginando, experimentando e interpretando a vida a partir do fogo dos que vieram antes de nós e dos que nos esperam adiante. só se existe em ATO. no brasil muitas vidas estão agora sob grande ameaça. o estado assume sua ação em políticas de morte. todos os povos que neste momento, e desde há muito, pulsam suas existências e se insurgem contra as violências institucionais estão sob a mira da extinção, do apagamento, do desaparecimento forçado. os povos da cultura, seus operários, os povos do teatro, das artes, também são foco de extermínio e soterramento. para atravessar este pântano, será preciso invocar, e ao mesmo tempo encarnar, a sabedoria das alianças e das confluências, como os rios correm juntos em direção aos vales. fazer parentes, lutar-junto, criar- junto é agora uma tecnologia política e uma máquina de guerra, contra a guerra. malditas sejam todas as cercas nos apartam do poder da nossa força coletiva, malditas sejam todas as cercas que nos separam da urgência vital de nos alinharmos na potência das nossas diferenças, criando um campo magnético de multiplicidades, de subjetividades, de memórias, de qualidades de luta, horizontais, que se entrelaçam no fronte contra todas as asfixias. é hora. este é um chamado às alianças vitais.